segunda-feira, 12 de maio de 2014

elucubrações


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Há um sabor a ilha no rigor da distância que de ti me separa. Um oceano, marejado de lágrimas fingindo azul, colorido por um céu de tonalidades díspares que vagueia ao compasso das danças do vento, bailando só, tempo sem destino, fuga, sem cais onde aportar. Haverá um “nós” de esperança neste delírio? Feitos barcarolas arrogantes, num festim ninfoide, desafiamos a noite do “Hades”; o amanhã é agora!

sexta-feira, 2 de maio de 2014

 
 
LOUCURA REVISITADA
 
Sobes as escadas quase tão veloz como um relâmpago. Olho para ti como que movido por uma raiva calculada, um fatalismo ressentido, como aqueles lenços de papel usados que deixamos a apodrecer nos bolsos das calças e que deles só damos conta quando, semanas mais tarde, tiramos a roupa da máquina.
 
Seis lanços de escadas.
 
Ouço-te, lá longe. Terás chegado ao teu destino? A inveja, que coisa feia; lembro-me quando, ainda um miúdo, observava os velhos rabugentos nos jardins zurzindo a vitalidade dos mais jovens. É estranho, sinto-o, digo-o de mim para mim: Eu, que não faço ainda parte de nenhum "clube med", a comportar-me como um ser provecto... Sê-lo-ei?
 
Uma psicóloga, jovem e impressiva, disse-me, em tempos, que tendia a sofrer do síndrome de Ulisses. Saberia eu viver de outra forma que não essa de me achar perpetuamente incompreendido, cercado por olhos mil que me causticam?...
 
Por alguma razão, nunca gostei de psicólogos; os arautos da "filosofia espontânea". É só aquecer a água e já está, uma sociedade secreta de consoladores.
 
Seis lanços de escadas... Adeus, ó puto, congemino para com os meus botões, e em surdina, há cinco anos atrás não me batias tu, ó mané! Apetece-me levar as mãos à cara e cobrir-me de vergonha. Porque é que neste mundo, em que nos doutrinam nas sacrossantas virtudes da competição pela competição, nos sentimos envelhecer, apodrecer, cada vez mais cedo?
 
E pensar que qualquer dia toda esta mágoa não passará de um vulgar mal-estar civilizacional... Aí, sim, serei finalmente um gajo normal.